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Em fins de mar�o de 2019 saiu a decis�o final sobre a acusa��o de abuso sexual e ass�dio moral na gin�stica art�stica, praticados por Fernando de Carvalho Lopes: ele foi considerado culpado das acusa��es e banido definitivamente da modalidade pelo Superior Tribunal de Justi�a Desportiva (STJD) da Confedera��o Brasileira de Gin�stica (CBG).

Fernando era coordenador t�cnico da equipe brasileira da gin�stica art�stica masculina e acompanhava o atleta Diego Hypolito na �poca das acusa��es,$5 minimum deposit online casino2016.

Devido �s den�ncias, foi afastado do clube no qual dava treinos (Mesc,$5 minimum deposit online casinoS�o Bernardo do Campo) e tamb�m dos Jogos Ol�mpicos do Rio, poucas semanas antes da competi��o ter seu in�cio.

Tal decis�o relacionada � gin�stica � inusitada, por�m participa do conjunto de den�ncias contra abusos e ass�dios sexuais ou morais que t�m aparecido nos esportes, inclusive no futebol.

O principal esporte nacional tamb�m n�o tem tido dias f�ceis:$5 minimum deposit online casinoabril de 2018 veio a p�blico o caso de Ruan P�trick Aguiar, que acusou Ricardo Marco Crivelli, coordenador das categorias de base do Santos Futebol Clube � �poca, de ter cometido abuso sexual quando ele ainda era menor de idade.

Segundo reportagem do El Pa�s, quando ocorreu tal ato, Ruan tinha 11 anos e teria sido acariciado e convencido a praticar sexo oral no referido coordenador[1].

A tenra idade e a rela��o com um adulto$5 minimum deposit online casinoposi��o hier�rquica, no qual o/a jovem deposita$5 minimum deposit online casinovida (esportista e profissional), parecem ser elementos que incitam o ass�dio e inclinam ao abuso.

Em termos brasileiros, o caso de Joanna Maranh�o, molestada sexualmente na inf�ncia por seu treinador, � paradigm�tico para entender essa configura��o.

Em meados de 2008, a atleta veio a p�blico denunciar as pr�ticas sexuais for�adas �s quais teve de se submeter ao t�cnico no passado e, a partir disso, uma lei foi criada para regular crimes de origem sexual praticados contra crian�as e adolescentes (conhecida, ent�o, como Lei Joanna Maranh�o).

Os fatos destacados, por$5 minimum deposit online casinovez, chamam aten��o para algo que, � primeira vista, poderia se relacionar � pedofilia, mas que, aqui nesse espa�o, quero dar outro encaminhamento.

Os abusos sexuais e ass�dios do t�cnico da gin�stica, do coordenador das categorias de base do futebol e mesmo do treinador de nata��o de Joanna trazem � tona que as v�timas dos atos s�o meninas/meninos atletas (ou atletas mirins), algo que,$5 minimum deposit online casinogeral, n�o se confere a devida import�ncia.

S�o crian�as expostas a comportamentos sexuais adultos, que muitas vezes n�o est�o fisicamente (e mesmo psiquicamente) preparadas para eles.

Se, na sociedade$5 minimum deposit online casinogeral, h� uma situa��o problem�tica quanto ao despertar de uma sexualidade precoce$5 minimum deposit online casinojovens pr�-adolescentes por meio dos imputs emitidos pelos meios de comunica��o (incluindo a internet), imagine-se propostas concretas para intercurso sexuais, sexo oral/anal ou ainda contatos com indiv�duos portadores de genitais desenvolvidos,$5 minimum deposit online casinoambientes circunscritos do esporte.

Al�m disso, vejo claramente uma problem�tica de g�nero (ou como diria Judith Butler, um gender trouble) a� imiscu�da[2]: pelo hist�rico de den�ncias nos �ltimos tempos, meninas-atletas est�o ocupando o topo dos relatos de acusa��o e,$5 minimum deposit online casinocontrapartida, h� pouqu�ssimos casos de meninos-atletas.

Se, por um lado, isso � �timo, pois estas aguerridas garotas conseguem vencer todo o limbo pegajoso do patriarcado, do silenciamento a que s�o submetidas e do lugar "secund�rio" a elas imposto pelo pr�prio esporte (vide nosso futebol praticado por mulheres), por outro, n�o ouvir as vozes de meninos-atletas � desolador, angustiante, desesperador.

O mundo esportivo est� cheio de ass�dio moral$5 minimum deposit online casinorela��o aos jovens do sexo masculino: ser o melhor do grupo, se destacar, ter mais habilidades, ser agressivo, viril e destemido.

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e a lista de adjetivos segue intermin�vel! Isso imputa a tais indiv�duos$5 minimum deposit online casinoforma��o um senso de responsabilidade que, atrelado a in�meros outros (como, talvez, ser arrimo de fam�lia ou ter que sustentar pessoas idosas e/ou com defici�ncia de seu c�rculo �ntimo), desencadeia uma permissibilidade$5 minimum deposit online casinorela��o a abusos sexuais, que n�o encontram precedentes$5 minimum deposit online casinooutras situa��es.

Garotos futebolistas s�o bulinados$5 minimum deposit online casinovesti�rios, ginastas-mirins s�o convidados a praticar sexo oral$5 minimum deposit online casinohomens-barbados, t�cnicos usam de artimanhas para dormir ou entrar no banho com atletas jovens, mesmo quando est�o$5 minimum deposit online casinoquartos individualizados.

E,$5 minimum deposit online casinonome do peso nas costas, da responsabilidade de ser "homem$5 minimum deposit online casinoforma��o", do "ter que dar certo", da expectativa de pais, m�es, parentes ou respons�veis, esses meninos-atletas passam por cima de seus desejos, de suas repulsas, de orienta��es sexuais e prefer�ncias e se submetem aos homens que os comandam.

Suas vozes n�o s�o ouvidas, porque s�o abafadas; eles n�o se colocam contra os abusos, porque foram adestrados a "fazer de tudo"$5 minimum deposit online casinotroca de promessas de serem convocados ou, nas mais tristes das situa��es, fazem$5 minimum deposit online casinotrocas de cestas alimentares.

De acordo com Laura Robinson, uma pesquisadora canadense que tem se dedicado a estudar o abuso sexual no h�quei no gelo e as implica��es de tal ato por parte de jogadores homens que atuam segundo uma "cultura do estupro" no esporte, algo que complexifica as for�osas rela��es estabelecidas entre agressor e v�tima � a quest�o do consenso.

Para os jogadores de h�quei que a pesquisadora estuda e mesmo na maioria dos casos jur�dicos que analisou nas �ltimas duas d�cadas, o consenso foi a palavra m�gica que denotava o "prazer" que a v�tima sentia (e, por extens�o, os livrava de qualquer culpa).

Isso os tirou de uma potencial condena��o e, no cen�rio institu�do, tornou a "acusa��o de crime" perpetrada pelas mulheres violentadas quase imposs�vel de ser pronunciada[3].

Diferentes esportes, distintas culturas ao redor do globo, um mesmo proceder: homens cisg�nero acionam o poder de seus falos$5 minimum deposit online casinoprol do gozo narc�sico e sup�em o consenso de um corpo aprendiz, temer�rio, fr�gil, que apenas almeja aten��o e cuidado no processo de aprendizagem esportiva que vivem.

Tais homens n�o enxergam ningu�m al�m de si mesmos.

A coordenadores, treinadores, m�dicos esportivos e mesmo atletas adultos, um aviso: a temporada de ca�a a voc�s e a seus comportamentos libidinosos j� come�ou!Notas de rodap�:

[1] PIRES, Breiller.

"Den�ncia de abuso sexual estremece o mais famoso celeiro de jogadores do Brasil".El Pa�s.2018.

Dispon�vel$5 minimum deposit online casino

com/brasil/2018/04/21/deportes/1524332816_854452.

html >, acesso$5 minimum deposit online casino02 abril 2019.[2] BUTLER, Judith.

Problemas de g�nero: feminismo e subvers�o da identidade.

Rio de Janeiro: Civiliza��o Brasileira, 2003.

[3] ROBINSON, Laura.

Crossing the Line: violence and sexual assault in Canada's National Sport.Toronto: M&S Inc., 1998.

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Wagner Xavier de Camargo Antrop�logo que se dedica a pesquisar corpos, g�neros e sexualidades nas �reas de Educa��o F�sica e Esportes.

Tem p�s-doutorado$5 minimum deposit online casinoAntropologia Social pela UFSCar, Doutorado$5 minimum deposit online casinoCi�ncias Humanas pela UFSC e est�gio doutoral na Freie Universit�t von Berlin (Universidade Livre de Berlim), na Alemanha.

Fluente$5 minimum deposit online casinoalem�o, ingl�s e espanhol, adora esportes.

J� foi atleta de atletismo, fez ciclismo$5 minimum deposit online casinotandem com atletas cegos, praticou gin�stica art�stica e trampolim acrob�tico, jogou amadoramente frisbee e futebol americano.

Sua �ltima aventura esportiva se deu na modalidade tiro com arco.

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